Recomeço
Depois de dois meses, últimas famílias deixam abrigo na Ulbra
Instituição acolheu 7,8 mil pessoas desalojadas de casa pelas enchentes
O maior abrigo para pessoas desalojadas de suas casas pelas enchentes no RS chegou ao fim com a saída das últimas famílias, após dois meses da tragédia que assolou o estado. Nesta quinta-feira (4/7), o campus Canoas da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), que recebeu cerca de 7,8 mil pessoas, foi totalmente esvaziado de abrigados com a saída de 24 famílias, 12 homens e 4 mulheres, que agora serão acolhidos em um novo local.
O superintendente de Infraestrutura e Serviços da Aelbra (mantenedora da Ulbra), Adriano Chiarani, que também coordenou o Comitê de Crise da Instituição, ressaltou que a Ulbra encerrou o abrigo na certeza de que contribuiu da melhor forma possível para abrigar milhares de pessoas.
"A Universidade com toda a sua estrutura, por meio de inúmeros voluntários de diversas partes do país, incluindo professores, alunos e colaboradores da Ulbra, fez a diferença nesse contexto. Gratidão a todos que doaram seu tempo e recursos para melhor atender aos abrigados. O trabalho e a missão não se encerram por aqui, pois continuaremos contribuindo com a cidade de Canoas e região no processo de reconstrução", destaca.
Pela manhã, a técnica de enfermagem Raquel de Moura Ribeiro, de 29 anos, acompanhada de marido, pai, filhos e cães, deixou o prédio 55 da Ulbra. A família foi a primeira encaminhada para o Centro Humanitário de Acolhimento Recomeço em Canoas.
O local é equipado com 126 casas modulares feitas especialmente para situações de emergência. Conforme a coordenadora de Emergência do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), Ana Scattome, o espaço tem capacidade para receber cerca de 630 pessoas.
Recomeço em lar temporário
Em maio, Raquel deixou a casa onde morava atravessando sua rua com água pela cintura. Os filhos foram encaminhados para a Ulbra enquanto ela salvava seus animais colocando-os dentro de uma geladeira para boiar em meio ao caos do início da enchente.
Após ter a casa dividida ao meio e ter na Ulbra o novo endereço de refúgio nos últimos meses, a expectativa é reconstruir tudo o que foi perdido. "Eu tenho fé e esperança de que tudo vai dar certo. Espero que consigamos dar um novo passo, que seja um novo recomeço."
As novas casas emergenciais são uma iniciativa do governo do Estado, em conjunto com organizações parceiras, e foram entregues pelo governador Eduardo Leite e pelo vice-governador Gabriel Souza. "Queremos casas definitivas para essas pessoas, mas, até lá, é preciso garantir cuidado, carinho e atenção", afirmou Leite.
Primeira vez no RS
O ACNUR tem mais de 70 anos de experiência em acolhimento de pessoas que foram forçadas a sair de suas casas. No entanto, é a primeira vez que esse tipo de estrutura vem pro Rio Grande do Sul. Atualmente, o serviço também acontece em Roraima para auxiliar os refugiados venezuelanos.
De acordo com Ana, esse tipo de estrutura montável existe em mais de 100 países ao redor do mundo, e é uma alternativa para as famosas tendas humanitárias. Conforme a coordenadora, o tempo de construção gira em torno de cinco horas, porém, devido ao grande esforço da equipe técnica e dos soldados do exército brasileiro, a montagem foi realizada em pouco mais de duas horas.
"Elas são duráveis, mais protetivas contra ventos, tempestades, podemos adaptá-las ao clima, além disso, dão um sentimento de casa, oferecendo conforto psicológico e mais segurança. Nós trabalhamos muito duro para trazer essas casas, tínhamos apenas oito disponíveis no Brasil, tivemos que trazer mais trezentas de fora, vieram do Panamá, Colômbia. Tivemos um esforço muito árduo dos nossos doadores, utilizamos avião solidário para conseguir trazer em tempo recorde. Estamos felizes por termos conseguido", afirma.
Thamiriz Amado
Jornalista - MTb 18.872
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