Encontrar uma maneira de reaproveitar a cinza, resíduo proveniente do bagaço de cana-de-açúcar, foi o problema proposto pela aluna do curso de Engenharia Química da ULBRA, Venise Bouvier Alves, em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em 2011/2.

A necessidade de gerar energia a partir de fontes renováveis vem impulsionando a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar e um dos principais resíduos gerados no processo industrial é o bagaço de cana que é utilizado para produção de energia térmica e elétrica em usinas termoelétricas, produzindo cinza como resíduo.  Pelo fato de a cinza não possuir destinação adequada, por ser pobre em nutrientes não servindo para adubação, muitas vezes ela é descartada em aterros, sem uma destinação adequada.

Dentro dessa realidade, Venise se propôs a avaliar as propriedades desse resíduo, no caso a cinza, visando sua possível utilização em substituição parcial ao cimento Portland, que é usado em argamassas. No caso específico do trabalho da acadêmica, o resíduo é proveniente do processo de fabricação de cachaça, sendo produzido pelo bagaço da cana-de-açúcar, após este ser utilizado como geração de energia para aquecimento.

“Meu TCC teve como finalidade achar uma maneira de agregar valor a esse resíduo, reaproveitando-o. A forma encontrada foi utilizá-lo em substituição ao cimento, porque a cinza possui propriedades que se assemelham com ele”, enfatizou Venise. O trabalho consistiu em retirar uma parte do cimento, da argamassa e adicionar a mesma quantidade de cinza.

Foram realizados levantamento de dados e procedimentos experimentais nos materiais que foram submetidos a ensaios de pressão e resistência para verificar se a alteração parcial do cimento, pela cinza, era viável. Após tentativas com percentuais diferentes do resíduo substituto, a conclusão apontou para um aproveitamento de até 20% de cinza em substituição ao cimento na argamassa. Para o coordenador do curso de Engenharia Química da Universidade, Luis Sidnei Barbosa Machado, essa foi a parte fundamental de tudo. “O mais importante era justamente saber que porcentagem de cinza poderia ser utilizada em substituição ao cimento sem resultar em comprometimento da qualidade”, explicou Sidnei.

A pesquisa encontrou ainda justificativa pelo fato de apresentar uma alternativa sustentável para a destinação do resíduo. “Dessa maneira estou utilizando menos cimento, já que a produção deste gera danos ao meio ambiente, pelas extrações de argila, areia e calcário que são recursos não renováveis. Sem contar no processo de fabricação do cimento que por ser realizado em altíssimas temperaturas, acaba gerando quantidades grandes de emissões atmosféricas que contribuem para o efeito estufa.”

Venise pretende dar seguimento ao tema de seu TCC em uma dissertação de mestrado. Seu orientador, o professor de Engenharia Química da Universidade, Gilnei Carvalho Ocácia, corrobora a opinião de sua orientada. “O trabalho dela está muito bem embasado para ter continuidade em um mestrado. Para isso deve ser ampliada a revisão bibliográfica e a questão de estatística, com um acréscimo no número de experimentos, considerando algumas variáveis adicionais”, complementou o orientador. 

Para o coordenador Sidnei, o trabalho feito pela ex-aluna tem servido de modelo para outros que procuram atuar no mesmo viés. “Além da qualidade técnica do projeto, sua importância também é destacada pelo fato de atuar na linha da sustentabilidade, focando no reaproveitamento de materiais que são considerados resíduos, pois atualmente quase tudo pode ser reutilizado”, finalizou Sidnei. A professora Fernanda Macedo Pereira também auxiliou Venise, atuando como coorientadora.

Segue entrevista de Venise na rádio Gaúcha:  http://www.cwaclipping.net/sistema/newsletter/visualizar/materia.php?security=f191758dc3d7.174487.1082758