Jonata Santos criou o canal Não surta na Matemática Foto: Reprodução

A pandemia do novo Coronavírus fez com que as escolas brasileiras tivessem que adaptar suas atividades. Diante do desafio de manter o conteúdo das aulas em dia, os professores precisaram recorrer à criatividade para desenvolver materiais que continuassem fazendo sentido no aprendizado de seus alunos. Despretensiosamente, esse foi o caminho trilhado por Jonata Santos, professor de Matemática de uma escola do ensino fundamental de Canoas e mestrando do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Ulbra (PPGECIM).

Natural do município que leciona e estuda, Jonata relembra que sabia da sua vocação para a docência desde muito cedo. "Decidi pela carreira de professor em 2007, quando estava na 7ª série do ensino fundamental, porém não sabia de qual disciplina". Entre inglês, matemática, física e química, ele optou, inicialmente, pelo primeiro curso. Após três semestres, viu que não era aquilo que lhe despertava o interesse. "Eu percebi que estava infeliz e que a área de humanas não era a área que eu queria seguir, assim veio novamente a dúvida, só que, agora, entre matemática ou física", conta o mestrando, que acabou escolhendo a licenciatura em Matemática, influenciado por sua irmã, que estuda o mesmo curso na Ulbra.

Em 2014, ao iniciar a sua licenciatura em Matemática, Jonata tomou uma importante decisão: largaria o emprego e se dedicaria a um estágio, para ter tempo à tarde para estudar. Foi aí que seu caminho cruzou pela primeira vez com o PPGECIM da Ulbra. "Certo dia, cheguei ao laboratório de Matemática e a professora Tânia Seibert, então responsável pelo local, estava em um telefonema com a coordenadora do programa de pós-graduação, a professora Cláudia. Ela disse que estava precisando de um secretário, então a professora Tânia me levou ao prédio do PPGECIM para conversar com a coordenadora. Assumi o cargo e fiquei por 4 anos e 8 meses. Só saí após ter sido aprovado para a bolsa de mestrado no próprio PPGECIM", conta.

Após uma trajetória de altos e baixos pela graduação, onde chegou a pensar em desistir da carreira na Matemática, Jonata se formou, em agosto de 2018, e no semestre seguinte entrou para o mestrado do PPGECIM. "Fiz a prova em dezembro e em janeiro troquei a secretaria pelas salas de aula do local que tenho tanto carinho", relembra o jovem, que está no último semestre do programa de pós-graduação e se desdobra entre suas atividades como aluno e professor.

A ideia do canal "Não Surta na Matemática"

Com as restrições adotadas pelo município de Canoas, que no fechamento desta matéria estava com bandeira vermelha, fizeram com que Jonata tivesse que adaptar as suas aulas para os seus alunos do ensino fundamental. "As aulas foram suspensas e não se sabia como seguiria e de pronto eu comuniquei na escola que faria videoaulas para os alunos. Até então, eu gravava vídeos e publicava no YouTube como não listado, para que apenas meus alunos tivessem acesso", conta o professor.

A rotina de gravações e criação de conteúdo foi fazendo Jonata pegar gosto pelas produções dos vídeos. Não demorou para que os feedbacks positivos lhe motivassem a tornar o material público. "Eu tive um retorno bem legal por parte dos alunos. Depois de tanto falarmos sobre os vídeos, durante as aulas online, eu decidi começar a gravar videoaulas públicas para que as pessoas que tivessem dúvidas ou quisessem aprender tivessem acesso, até porque não se tinha e ainda não se tem uma previsão de retorno das aulas presenciais", explica.

Dessa forma, o canal "Não Surta na Matemática" acabou ganhando forma, com uma produção totalmente independente. "Faço tudo sozinho, olhei vídeo de programas na internet, comprei mesa gráfica digitalizadora, chroma key, e estudei uma maneira de como eu conseguiria fazer os vídeos públicos. É cansativo, pois tem que pensar no tema que vai ao ar, elaborar um roteiro, treinar as falar, gravar, verificar se o áudio ficou bom, se a imagem está nítida e uma série de coisas".

A produção de conteúdo do canal

A criação de um canal vai além das questões técnicas envolvidas na gravação dos vídeos. Um importante aspecto do projeto que Jonata acabara de iniciar é o conteúdo. Diante disso, o professor encontrou algumas alternativas para manter o "Não Surta na Matemática" abastecido. "Ao pensar nos temas eu sempre peço que os conhecidos me enviem algumas sugestões, para que eu possa idealizar, e também dou umas olhadas nos livros didáticos, para verificar a sequência dos conteúdos".

Além disso, Jonata percebeu que a plataforma e seus usuários exigem uma abordagem diferente da habitual usada em sala de aula. "Durante a gravação, eu tento ser bem objetivo, ressaltando aspectos importantes, para que o vídeo não fique extenso e eu consiga prender a atenção de quem está assistindo. É desafiador, mas gratificante, pois não é simplesmente abrir um vídeo e sair falando, tem toda uma questão que vai além do gravar, que é resumir uma aula de 50 minutos em um vídeo de 10 ou 15 minutos".

A receptividade do público

Ao falar sobre a avaliação das pessoas que assistem os seus vídeos, o professor conta que amigos e alunos têm tido papel fundamental no direcionamento que o canal recebe. De acordo com Jonata, os feedbacks são importantes e o fizeram repensar em alternativas para o seu conteúdo. "A matemática é um conteúdo difícil e muita gente tem um pré-conceito em relação aos conteúdos que são estudados nas aulas. Com a pandemia, o que já era difícil ficou mais ainda, então esse retorno do público é fundamental", observa.

Essa troca entre o professor e os alunos, segundo Jonata, acaba amenizando a saudade das aulas presenciais e do contato mais próximo com colegas de trabalho e estudantes. "No dia que foi comunicado a suspensão das aulas, eu já disse que faria vídeo aulas e deixaria em um link para os alunos acessarem. Isto foi feito, mas com o passar dos dias e o retorno das aulas sendo adiado, a saudade dos alunos foi aumentando. Além da saudade deles, também vem a saudade dos professores, de colegas de trabalho que eu havia conhecido há pouco mais de um mês", confessa o docente.

Nos dois lados da moeda

Além da dificuldade de ministrar suas aulas para os alunos da rede municipal, o professor de matemática tem que se dividir entre o novo projeto e as aulas do mestrado em Ensino de Ciências e Matemática. Na reta final da pós-graduação, Jonata também teve que se adaptar à rotina remota, cursando as disciplinas online. No entanto, isso não chegou a ser um problema. "Sou um amante das tecnologias, então estou gostando muito desta experiência de ser aluno com aula online. Inclusive, tenho o prazer de ser colega de alunos que estão em outros estados do Brasil e essa troca de experiências, mesmo que não seja presencial, é muito legal e gratificante", elogia.

Para conhecer o canal "Não Surta na Matemática", clique aqui. O projeto é sem fins lucrativos, não tem qualquer tipo de apoio ou financiamento, e, de acordo com Jonata, é apenas com o intuído de ajudar a comunidade estudantil.

Leonardo Magnus
Jornalista Mtb 19305/RS