Amarildo Luiz Trevisan
Título: Arquivos da Violência na Educação: Desafios para a relação Violência, Memória e Linguagem
Descrição: O projeto de pesquisa visa a debater, na perspectiva da Filosofia da Educação, a viabilidade da institucionalização de práticas dialógicas informadas como contraponto e prevenção à violência na educação. Para isso, trata das dificuldades de seus registros em arquivos e o imperativo de construir mediações dialogadas e propositivas, com vistas a sua melhor compreensão e enfrentamento na convivência da relação educando e educador. O objetivo é oferecer subsídios à reflexão dialógica da prática pedagógica de educadores das redes de ensino, no sentido de problematizar o significado da formação em tempos de exceção normalizadora e de incisiva presença da violência nas escolas. A proposta pretende adotar a perspectiva da hermenêutica reconstrutiva, a qual serviu de base para nossas pesquisas até o presente. Ela surge como reação à hermenêutica tradicional, dado que esta havia subsumido o lugar do outro na tradição, complementando-se através dos estudos da Escola de Frankfurt. A abordagem enquadra-se no âmbito do objeto investigado, principalmente por levar em consideração o lugar do outro, algo negado no contexto ou na era da violência que estamos vivendo. A partir da análise de tais dificuldades, o projeto sugere uma reformulação no pensamento pedagógico brasileiro, no sentido de valorizar a memória sobre as questões da violência. Dessa forma, por um lado, ao elucidar supostos políticos, ideológicos e culturais das noções de arquivo da violência escolar, estaria contribuindo para auxiliar no autoesclarecimento pedagógico de educandos e educadores. Por outro, propicia um melhor clima de desenvolvimento socioemocional à relação professor e estudante no contexto da escola, auxiliando o Brasil a transcender os índices negativos de ensino e aprendizagem. O projeto foi aprovado CNPq com Bolsa Produtividade em Pesquisa ? PQ-1C - 2020, sob o CAAE 44902321.7.0000.5346. O projeto foi aprovado também com bolsa Iniciação Científica PIBIC/CNPq e PROBIC/FAPERGS.
Título: Infâncias, juventudes e famílias no âmbito de políticas públicas de inclusão social no Brasil Contemporâneo
Descrição: O desenvolvimento desse projeto vincula-se a linha de pesquisa Infâncias, Juventudes e Espaços Pedagógicos, no âmbito do PPGEDU/ULBRA e tem como objetivo realizar análises acerca da produção de infâncias, juventudes e famílias, sobretudo ao examinar as proposições e ensinamentos veiculados no âmbito das políticas públicas atuais, nas áreas da Educação, Saúde e Inclusão Social, assim como, em outros lugares da cultura, tais como: academias, filmes, séries, músicas, escolas, literatura infantil, revistas, jornais, propagandas, internet, etc. As pesquisas que integram esse projeto ancoram-se nos campos teóricos dos Estudos Culturais, Estudos de Gênero, Sociologia da Infância e Sociologia da Juventude, bem como, das análises de autores/as pós-estruturalistas, como Michel Foucault. Considerando a construção, pluralização e atualização constante das pedagogias do presente, termo cunhado, por Camozzato (2014) pretende-se visibilizar a intima relação entre a disseminação das pedagogias, com a produção de sujeitos e subjetividades, na contemporaneidade. Nesse sentido, o grupo de pesquisa agrega-se a partir das seguintes indagações: Que saberes e práticas são acionadas na produção de distintas pedagogias do presente? Quais são os ensinamentos e imperativos que os artefatos analisados buscam constituir para a infância, juventude e famílias? Quem fala? O quê? Para quem? E com que efeitos? Quais características, comportamentos, habilidades e capacidades esses indivíduos necessitam incorporar? Como o gênero atravessa e constitui a infância, a juventude, à docência e as relações familiares mediante os discursos que as políticas públicas e demais artefatos incorporam ao buscarem governar a vida dos/as sujeitos? Que atravessamentos e incorporações de gênero estão presentes nas próprias instituições, campos de saber, símbolos e normas relacionadas às políticas públicas? Palavras-chave: Políticas públicas, Estudos Culturais, juventudes, famílias, gênero.
Darlize Teixera de Mello
Título: A IMPLEMENTAÇÃO DA BNCC E DA PNA E OS EFEITOS NOS CURRÍCULOS DAS ESCOLAS DA REDEMUNICIPAL DE ENSINO DE PORTO ALEGRE E DA REDE ESTADUAL DE ENSINO DE CANOAS/RS.
Descrição: O presente projeto tem como objetivo identificar e analisar como o currículo maior da BNCC e da PNA estão mobilizando a produção de currículos menores nas escolas municipais de Porto Alegre. As pesquisas anteriores realizadas sobre a avaliação das habilidades de compreensão leitora de alunos alfabetizandos: Provinha Brasil e Avaliação Diagnóstica do Programa Mais Alfabetização e a Base Nacional Comum Curricular priorizou estudos sobre efeitos das avaliações em larga escala em práticas curriculares nas classes de alfabetização. A continuidade dos estudos nas escolas e a implementação da BNCC e da PNA em redes públicas de ensino, por meio do Referencial Curricular Gaúcho (RCG) e referenciais construídos pelos municípios, justificam a presente investigação. O projeto inscreve-se na perspectiva teórico-metodológica pós-estruturalista e priorizará estudos sobre currículo, alfabetização e ciclo de políticas públicas, bem como de currículo maior e currículo menor inspiradas em Gallo (2003). Compreendemos como currículo maior aquele produzido pelas normativas oficiais como a BNCC e os currículos menores dizem respeito às produções curriculares realizadas na contingência e no cotidiano das escolas. pesquisa, a produção de informações será realizada online com ações síncronas e assíncronas entre pesquisadores e professores das escolas selecionadas. As ações síncronas acontecerão na forma de cursos de extensão, reuniões, lives, entrevistas, compreendidas como conversações e compartilhações (SCHLEMMER, 2020b). Já as ações assíncronas serão constituídas por questionários online e diferentes tecnologias educacionais a serem definidas. Como resultados principais desta investigação pretende-se contribuir com a área da Educação para: a) qualificar processos de produção de currículos para o ciclo da alfabetização pelos professores do 1o ciclo, contemplando conhecimentos e saberes contextualizados e críticos; b) colocar à disposição da Universidade e das redes de ensino municipal de Porto Alegre e do Estado do Rio Grande do Sul/Canoas formas de produzir currículos escolares pelos professores em contextos locais, auxiliando na construção de políticas educacionais voltadas ao ciclo da alfabetização e na formação docente nos cursos de Graduação e Pós-Graduação; e c) produzir conhecimentos sobre as potencialidades e as fragilidades da BNCC e da PNA, apontando aspectos necessários para garantir o direito de aprendizagem e o desenvolvimento dos alfabetizandos em suas heterogeneidades, valorizando o trabalho docente.
Daniela Ripoll
Título: PEDAGOGIAS CULTURAIS: LIÇÕES DENTRO E FORA DA ESCOLA
Descrição: O conceito de pedagogia cultural é central no campo dos Estudos Culturais, pois permite ao pesquisador assumir que os artefatos e as práticas culturais mais amplas apresentam uma dimensão pedagógica, ensinando modos de ser/estar/ver o mundo. Ao longo de trinta anos de uso, o conceito vem se modificando significativamente: nos anos 90, o conceito era pensado a partir da Pedagogia Crítica, organizado a partir de noções de "poder", "saber", "sujeito" e "verdade" de inspiração marxista. Os trabalhos mostravam, neste período, a necessidade de um "alfabetismo midiático"/alfabetismo crítico Que propiciasse, aos sujeitos, resistirem ao que se entendia ser a ?opressão midiática?. Entre o final dos anos 90 e início dos 2000, Fischer elaboraria o conceito de "estatuto pedagógico da mídia", já profundamente inspirada pelas teorizações foucaultianas e, em especial, pela noção de dispositivo. Na atualidade, as pedagogias se atualizam e se proliferam no campo dos Estudos Culturais. Este projeto pretende aprofundar os estudos envolvendo os novos entendimentos do conceito de "pedagogia cultural" - especialmente, a partir de autores de língua inglesa (MEEK, 2018; HICKEY, 2018; WATKINS, NOBLE, DRISCOLL, 2019). Também pretende aprofundar os estudos sobre o conceito de currículo cultural e de pedagogias do corpo e da natureza, especialmente, por meio de um amplo inventário das pesquisas sobre corpo e natureza desenvolvidas no campo dos Estudos Culturais e Educação.
Título: Literatura Infantojuvenil Digital: Imersividade e Poéticas da Ilusão
Descrição: Descrição: A pesquisa possui, como objetivo, o estudo da imersividade em obras de literatura infantojuvenil digitais, com ênfase nas poéticas ilusionistas produzidas com base na imersão. O trabalho a ser realizado é de natureza qualitativa, está estruturado em três eixos temáticos e possui seis principais metas. Os eixos são: a) A imersividade de um ponto de vista histórico e teórico; b) As poéticas do ilusionismo; c) Recursos tecnológicos e semióticos de imersividade em obras de literatura infantojuvenil digitais contemporâneas, com ênfase em obras que lançam mão das assim chamadas tecnologias imersivas (Realidade Aumentada e Realidade Virtual).
Karla Schuck Saraiva
Título:Transformações na racionalidade política contemporânea e seus efeitos na educação
Descrição: O projeto de pesquisa aqui apresentado visa a aprofundar estudos que mostrem uma inflexão na governamentalidade contemporânea fortemente relacionada com a cultura e a economia digitais, provisoriamente denominada de governamentalidade ultraliberal, bem como seus possíveis efeitos no campo educacional. Já constam no projeto algumas discussões preliminares que sinalizam a potencialidade do estudo, que será desenvolvido em uma perspectiva pós-estruturalista. Metodologicamente, o projeto será desenvolvido a partir de três movimentos: construção de um quadro teórico que funcione como uma lente teórico-metodológica; análise de práticas educacionais a partir desta lente; publicação de artigos e orientações de trabalhos acadêmicos. Estes três movimentos se darão concomitantemente, alimentando-se mutuamente. Como resultados, espera-se a publicação de artigos em revistas qualificadas e a produção de dissertações e teses que, ao mesmo tempo, utilizarão e colaborarão para a construção do quadro teórico. A pesquisa contribuirá com a Educação na medida em que se propõe a lançar uma outra mirada sobre as práticas desta área, permitindo pensá-las de outro modo.
Título: ENTRE PRÁTICAS E DISCURSOS: OS DILEMAS DA IDENTIDADE NACIONAL NA CONTEMPORANEIDADE
Descrição: O Estado nacional brasileiro utilizou-se ao longo dos séculos XIX e XX, de uma série de artifícios que tiveram por finalidade trabalhar em favor da criação e do estabelecimento da identidade nacional em nosso país. Neste sentido, lançou-se mão de uma vasta produção artística a respeito de determinados eventos históricos considerados significativos para a consolidação da identidade nacional. Assim como os monumentos, as pinturas, especialmente as de caráter histórico, consagraram-se ao longo do tempo como potentes símbolos de identificação com a nação. Neste projeto, a historiografia também foi fundamental na construção de uma narrativa cívica e pedagógica, memória evocativa ou construção do presente, que buscava consolidar uma identidade comum à nação. A escolarização de massas ganhou os seus primeiros contornos em meados do século XIX, e neste ínterim, o livro didático, enquanto artefato cultural, ocupou um local privilegiado na produção dos saberes relativos ao ser cidadão no Brasil. As pedagogias culturais presentes nestes artefatos, participam ativamente dos projetos de homogeneização e construção identitária desenvolvidos no âmbito dos Estados nacionais. Como podemos verificar, ao longo do tempo diferentes políticas de subjetivação passaram a ser adotadas pelo Estado a fim de estabelecer, por intermédio de vasta produção material e simbólica, o projeto de nação então desejado. Por outro lado, quando pensamos nos acontecimentos mais recentes em torno do direito de autorrepresentação reivindicado por aqueles grupos que historicamente sofreram a homogeneização imposta pelos sistemas nacionais de significação, lembramos do ano de 2020, momento em que uma série de ventos de contestação ligados às identidades culturais e sociais subjugadas tomaram curso em diversos países. Em termos mais específicos, consideramos importante conhecer a maneira como tais movimentos se constituíram e adquiriram importância no Brasil. É nesta direção que esta proposta de pesquisa pretende atuar, buscando identificar e analisar as diferentes maneiras com que este projeto moderno de nação passou a ser desenvolvido, os seus interlocutores, as suas representações, práticas e discursos levados a efeito. Assim, acreditamos que, ao percorrer tais caminhos, poderemos compreender também os reflexos deste longo processo em diferentes momentos nos quais, na contemporaneidade, passam a ser empreendidas as lutas e os embates que buscam ressignificar os discursos e as práticas que até então buscaram balizar as condutas e as formas de ser e de pertencer em razão da nacionalidade. Interessa-nos, portanto, mapear tais percursos, identificando as possibilidades de emergência destes movimentos e as suas conexões com os diferentes aspectos que caracterizam os discursos e práticas culturais na contemporaneidade.
Título: ARTE, EDUCAÇÃO E FILOSOFIA: MODOS DE COMPOR EXPERIÊNCIAS ÉTICAS E ESTÉTICAS PARA/NA COMPOSIÇÃO DA VIDA
Descrição: O presente projeto tem como finalidade estruturar um Laboratório de Arte, Música, Educação e Filosofia (LAMEF) a fim de construir subsídios teóricos e técnicos para a formação de alunos/as e professores/as dos cursos de Licenciatura da Universidade do Planalto Catarinense UNIPLAC. O objetivo é compor uma educação ética e estética numa articulação entre arte, educação e Filosofia para a construção de subjetividades mais comprometidas com modos outros de vida. Uma educação para/com/nas diferenças. Trata-se de uma formação inicial e continuada sempre preocupada com uma educação mais inclusiva. Uma das metas do projeto é a construção de professores/as pesquisadores/as. Desta forma, a articulação entre formação artística e pesquisa caminharão juntas. Ou seja, haverá uma potencialização no que se refere a formação musical e artística dos/das pesquisadores/as engajados no projeto, bem como um processo de formação de pesquisa que acontecerá durante todo o período desenvolvimento do projeto.
Título:Pedagogias da presença indígena: outros modos de narrar o campo educativo
Descrição: Políticas de ações afirmativas na pós-graduação vêm sendo instituídas em grande parte das universidades públicas brasileiras, especialmente a partir de 2016, potencializando a presença de estudantes indígenas em cursos de mestrado e doutorado. Esta presença institui novas dinâmicas, amplia o leque de discussões, análises e problematizações na pesquisa acadêmica e promove deslizamentos nas usuais formas de organizar, orientar e conduzir o trabalho investigativo. O objetivo principal da presente pesquisa é analisar as pedagogias da presença indígena em programas de pós-graduação em Educação de universidades brasileiras, buscando entender se/como ela tensiona campos de saber, promove novos temas, problemas e abordagens que reverberam nos modos de narrar o campo educativo. A metodologia é de base qualitativa, inspira-se na cartografia sociocultural e está organizada a partir de dois movimentos principais: o primeiro está voltado ao mapeamento da presença indígena na produção do conhecimento acadêmico e prevê seleção e análise de produções de autores indígenas, mestres e doutores, com vistas a entender como se estabelecem estratégias de representação, possíveis vinculações da pesquisa com lutas comuns aos povos indígenas, afirmação das ciências e conhecimentos ancestrais, diálogos interculturais e modos de narrar o processo educativo. O segundo movimento propõe a seleção e análise de iniciativas colocadas em curso por alguns programas de pós-graduação, de modo a circunscrever o caráter pedagógico, estratégico e político da presença indígena e possíveis contribuições para a promoção de políticas de combate ao racismo nas instituições.
Título: Políticas Educacionais e Interculturalidade
Descrição: O presente projeto busca investigar como o movimento indígena brasileiro, conceitua a noção de interculturalidade, e como essa conceituação contrasta, ou não, com a Política Nacional de Educação. A fim de analisar a percepção do movimento indígena brasileiro serão entrevistados suas lideranças, professores indígenas e professores não indígenas de Escolas indígenas. Serão considerados, também, como a noção de interculturalidade aparece no bojo da implantação da Lei nº 11.645, de 10 março de 2008 que torna obrigatório o estudo da história e cultura indígena nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, através da análise de materiais didáticos para os anos iniciais e anos finais do ensino fundamental, considerando o período de 2018 - 2022. A partir de então serão comparadas as concepções sobre interculturalidade. Dessa maneira compreendo os livros didáticos como artefatos culturais e, a partir das pedagogias culturais, entendo que existe ali um caráter de pedagógico na medida em que podemos enxergar processos educativos que ensinam determinadas formas de ser, de se ver e de agir, bem como atuam na constituição de subjetividades e identidades de diferentes sujeitos. De acordo com Paula Deporte de Andrade e Marisa Vorraber Costa (2015), as pedagogias culturais expandem e multiplicam o entendimento sobre pedagogia, bem como explicam o caráter pedagógico da vida social e cultural. Assim, permitem-nos pensar como pedagógicos os locais para além das instituições formais de educação (Gonçalves e Guizzo, 2021).
Maria Angélica Zubaran
Título: Mulheres Negras Escravizadas: Representações e Protagonismos nos Tribunais de Justiça do Sul do Brasil
Descrição:A história das mulheres negras escravizadas e libertas, apesar de central na história do Brasil, é ainda um tema pouco estudado na historiografia brasileira. Esta lacuna foi em parte preenchida com a publicação do livro de Schuma Schumaher e Érico Vital Brazil (2013), Mulheres Negras no Brasil, leitura fundamental para se conhecer as trajetórias de lutas e conquistas das mulheres negras no Brasil. Por outro lado, recentemente Flávio dos Santos Gomes, Jaime Lauriano e Lilia Moritz Schwarcz, no livro intitulado ?Enciclopédia Negra? (2021), salientaram o grande e constrangedor silêncio que habita a maior parte dos arquivos brasileiros e sobretudo os nossos livros didáticos sobre o tema. Os autores organizaram por meio de verbetes e em ordem alfabética, uma - contra-história -, visibilizando as biografias de afro-brasileiros de diferentes partes do Brasil, entre profissionais liberais; mulheres negras, ativistas; curandeiros, médicos e líderes religiosos, que permaneceram esquecidos na história oficial do Brasil. Na mesma direção, a publicação do recente livro da historiadora Mary Del Priore, ?À Procura Deles: Quem são os negros e mestiços que ultrapassaram a barreira do preconceito? traz à tona sujeitos afro-brasileiros que foram protagonistas na sociedade da época, mas que caíram no esquecimento. Entre as intelectuais negras dedicadas ao estudo do tema, destaca-se a historiadora Giovana Xavier, cujas pesquisas sobre representações da diferença da mulher negra na literatura do Rio de Janeiro do século XIX sã relevante para a discussão que pretendemos fazer das narrativas das mulheres negras escravizadas nos tribunais de justiça. Também de grande importância para esse estudo são os aportes das autoras do black feminism norte-americano, Patricia Hill Collins (1990); Angela Davis (2017), bell hooks (1984), Audre Lorde (1983) e a portuguesa Grada Kilomba. No Brasil, destaca-se os estudos de Sueli Carneiro (1985), Lélia Gonzales (1988), Beatriz Nascimento (1989), Neuza Santos Souza e Djamila Ribeiro, que contribuíram sobremaneira para o avanço das discussões e pesquisas sobre mulheres negras. Essas autoras têm salientado a importância de refletirmos sobre dois conceitos fundamentais: o conceito de interssecionalidade e o conceito de lugar de fala. A presente pesquisa dá continuidade ao estudo sobre biografias negras, porém nesta nova fase prioriza a pesquisa sobre as mulheres negras e suas lutas por liberdade nas Cortes de Justiça do Rio Grande do Sul. Pretende-se visibilizar as trajetórias dessas mulheres negras escravizadas e invocar suas memórias, de forma a visibilizar seu protagonismo nas cortes de justiça nas últimas décadas da escravidão, tema que permanece em grande parte ignorado na historiografia. Nas últimas décadas do século XIX, o Brasil mudava lentamente, particularmente no que diz respeito à condição das mulheres negras escravizadas, que vistas mais como mercadoria do que como seres humanos, foram obrigadas a trabalhar e sobreviver em condições extremamente precárias, que incluíam se submeter a constantes maus-tratos, além da violência inerente ao sistema escravista. Seguir vivendo em ambiente tão hostil exigiu força, inteligência, capacidade de adaptação e, sempre que possível, rebeldia. É como se, a todo momento, fosse preciso inventar formas de não morrer, não adoecer e não enlouquecer enquanto serviam a seus senhores (p.388). Conforme a autora, ?o movimento dessas mulheres rumo à liberdade foi uma aventura árdua, com embaraços e impedimentos de todo tipo e nas mais diferentes instâncias? (p. 404), incluindo os tribunais de justiça como pretende-se demonstrar. Nesta direção, o objetivo central desta pesquisa é investigar como mulheres negras resistiram e se recusaram a aceitar a escravidão como natural ou inevitável em um período em que a sociedade brasileira aceitava a escravidão de forma consensual.
Moysés da Fontoura Pinto Neto
Título: Pedagogias Contraculturais na Era do Antropoceno e da Digitalização
Descrição: O projeto tensiona as consequências da ?virada ontológica? na filosofia (por autores como Jacques Derrida, Quentin Meillassoux, Catherine Malabou, Ray Brassier, Graham Harman, Steven Shaviro, entre outros), na antropologia (por autores como Bruno Latour, Viveiros de Castro, Martin Holbraadt, Philippe Descola, Tania Stolze Lima) e nos Estudos de Ciência e Tecnologia (Stengers, Haraway, Tsing) em relação aos conceitos epistemológicos de base e seus efeitos políticos nos Estudos Culturais em Educação. O projeto propõe a hipótese de o conceito de cosmologia aparecer como correlato da virada ontológica/especulativa e guarda-chuva para uma série de tendências que vão se tornando nítidas a partir do século XXI, incorporando a crítica ao racismo sistêmico e estrutural (teoria crítica racial), ao patriarcado (estudos feministas) e às estruturas coloniais (estudos decoloniais). Para tanto, busca pensar como o deslocamento da epistemologia e filosofia da linguagem para a ontologia transforma, sobretudo a partir do evento Antropoceno, a forma de articular pedagogias contraculturais voltando-a em direção ao novos imaginários ou mitologias. Nesse sentido, amplia o conceito de "pedagogias culturais", frequentemente utilizada pelos Estudos Culturais em Educação, para o conceito de "pedagogias contraculturais", entendendo-as no duplo sentido: como desconstrução do próprio conceito antropocêntrico de "cultura" (Hall) marcada pelas investigações cosmológicas decoloniais da contemporaneidade, e como cultura alternativa, capaz de traçar outras coordenadas de mundo (Grossberg, Viveiros de Castro). Abarca, por isso, investigações sobre fenômenos contemporâneos como a digitalização e a plataformização da educação e da produção de subjetividades, os imaginários alternativos emergentes a partir de perspectivas indígenas, quilombolas, afrocentradas, afrodiaspóricas e afrofuturistas, assim como transformações na organização disciplinar moderna e no seu cânone epistemológico.
Ricardo Willy Rieth
Título: IDENTIDADES E DIFERENÇAS NA GÊNESE E BASES HISTÓRICAS E TEÓRICAS DA MODERNIDADE OCIDENTAL E SEUS SUJEITOS: ANÁLISE DE REPRESENTAÇÕES E PRÁTICAS CULTURAIS ASSOCIADAS A ETNIA, RELIGIÃO E ECONOMIA
Descrição: O presente projeto aborda a discussão teórico-social em torno a "indivíduo" e "sociedade", ampliando a abordagem à compreensão de "identidade". Quer com isso dar suporte a pesquisas realizadas no âmbito da Linha de Pesquisa: "Pedagogias e políticas da diferença". A noção de "identidade" tem sido amplamente debatida. Na base da identidade estão simultaneamente a diferença e a igualdade. Igualar-se e diferenciar-se são práticas constituintes da subjetividade. Para Sousa Santos (1995), a identidade corresponde a uma "síntese de identificações em curso", isto é, é resultado transitório e fugaz de processos de identificação. O conceito não pode, portanto, ser compreendido como algo estático, pronto e definitivo, por ser construção incessante a partir de movimentos contraditórios. Os conceitos "indivíduo" e "sociedade" têm sido vinculados e relacionados de modos diferenciados no âmbito das ciências sociais. Abordagens teóricas que subsidiem efetivamente a Linha de Pesquisa: "Pedagogias e políticas da diferença" precisam partir de uma reflexão epistemológica sobre o conceito de identidade na relação com referenciais teóricos e metodológicos de duas correntes das ciências sociais: a que analisa a sociedade a partir da idéia de ação social, portanto, a partir do indivíduo; e aquela centrada no conceito de fato social, com a ênfase na própria sociedade como construção. Mediante o recurso aos "clássicos" (Marx, Durkheim e Weber), pergunta-se pelas possibilidades de um conhecimento sociológico da realidade. A "leitura" da sociedade a partir da teoria sociológica clássica precisa, por sua vez, ser complementada com a análise da reflexão de teóricos contemporâneos (Elias, Arendt, Veyne, Touraine, Giddens, Sousa Santos, Hall etc), uma vez que estes -- ao lado dos clássicos -- têm sido referenciais para a investigação em ciências sociais no contexto acadêmico brasileiro. O século XX testemunhou a expansão da modernização em proporções mundiais, quando esta acaba por abarcar praticamente o mundo todo e a cultura do modernismo se instala na cultura e nas artes. O grande paradoxo neste fenômeno de expansão e instalação da modernidade em nossa sociedade é que, na mesma medida em que esta se expande, ela se fragmenta em um sem número de matizes (nacionalidades ou grupos identitários) que não se sentem pertencentes a uma mesma identidade. A consequência é a perda da memória do que seria a trajetória desta mesma modernidade, que não é mais vista como uma experiência conjunta e sim como caminhos e trajetórias próprios de cada grupo. Cada geração relê e refaz o seu patrimônio cultural, em uma leitura feita do presente em direção ao passado, que é lido e interpretado de acordo com os sistemas simbólicos vigentes que lhe atribuem significados. Devemos observar a sociedade como um campo de forças onde se travam as lutas políticas, afetivas, identitárias e a paisagem que resulta é uma acumulação de tempos, de contextos, de projetos diversos que compõe as referências da comunidade, apesar de por vezes permanecerem no esquecimento. Porém não é este o modelo real e palpável que se nos apresenta, nossa realidade é de destruição dos lugares de memória, de desenraizamento, de desconstrução dos suportes sociais da memória coletiva. Todos estes elementos são criadores dos sentimentos de continuidade, de preservação, com a sua paulatina destruição, o cidadão sente-se progressivamente mutilado nos seus sentimentos coletivos em relação ao passado. Os objetivos da pesquisa são: - Investigar as compreensões teóricas de "identidade", "indivíduo" e "sociedade" nas ciências sociais; - Sistematizar reflexão de teóricos contemporâneos acerca dos conceitos "identidade", "indivíduo" e "sociedade", priorizando sua revisão da tradição clássica em face da constituição da sociedade ocidental a princípios deste terceiro milênio; - Pesquisar a recepção de teorias clássicas e contemporâneas acerca de "identidade", "indivíduo" e "sociedade" no ensino e na pesquisa em ciências sociais no Brasil; - Identificar alternativas teórico-metodológicas para a abordagem da memória social e das identidades; - Implementar debates e reflexões críticas relacionadas com as tendências historiográficas contemporâneas; - Propiciar a atualização bibliográfica nas diferentes áreas do conhecimento propostas abarcadas pelo projeto; - A partir do relatório de pesquisa, produzir artigos que reflitam o estágio atual do debate teórico-metodológico sobre "identidade", "indivíduo" e "sociedade". Quanto à metodologia, a pesquisa será bibliográfica, a partir de obras (fontes primárias) de teóricos clássicos e contemporâneos das ciências sociais, nas quais seja priorizada a discussão acerca dos conceitos "identidade", "indivíduo" e "sociedade" em suas múltiplas relações, bem como obras de comentaristas e sistematizadores (fontes secundárias) destas teorias. Quanto à tradição sociológica clássica, há consciência de com ela se abre um amplo leque de abordagens. Desde visões totalizadoras da realidade social, que buscam uma teoria apta a explicar e abarcar em um todo sistemático as múltiplas complexidades do real (Marx, Durkheim), até abordagens mais focadas, do ponto de vista epistemológico, na questão dos valores e sua interação com o conhecimento científico e, desde uma perspectiva metodológica, na pergunta pelas possibilidades do conhecimento sobre o real (Weber). Teóricos contemporâneos incorporaram criticamente aspectos destas abordagens e têm contribuído decisivamente na discussão acerca de "identidade".